top of page

Está gostando do conteúdo?

Então considere tornar-se um(a) apoiador(a) do nosso projeto! Ele é mantido graças à sua ajuda! 

Assim você contribui para nosso crescimento, e tem acesso a conteúdos e brindes mensais.

Porque juntos somos mais fortes!
 

  • Apoiador Fenô

    10R$
    Todo mês
     
Buscar

Resenha Fenô #3: Pain of Salvation - Be

Atualizado: 26 de dez. de 2022

Você também pode ouvir o conteúdo dessa postagem, se preferir:


Você gosta de rock progressivo? E que tal uma ópera metal? Pain of Salvation é uma banda sueca de metal progressivo liderada por Daniel Gildenlöw que traz ótimos trabalhos desde 1991. Mas hoje falaremos do álbum de 2004, intitulado “Be”. Fenomenologia e “Be” tem tudo a ver, em especial na aproximação com o pensamento de Martin Heidegger. O título do álbum já dá o tom, pois “Be” se traduz em português por “Ser”. Mas a discussão sobre o sentido do ser não é a única coisa em comum com o pensamento de Heidegger. “Be” narra a história de um Deus (ou Deuses) que, na tentativa de compreender a si mesmo(s), cria a humanidade à sua própria imagem. O que se desenrola a partir daí é muito próximo da discussão que Heidegger faz a partir da crítica à técnica moderna, pois, no álbum, a humanidade acaba destruindo a si mesma e o planeta em que habita, com o advento da tecnologia e o acirramento das contradições do capitalismo.


Sendo um álbum progressivo, “Be” possui um conceito bem definido e precisa ser ouvido em sua totalidade, porque cada música narra um trecho da história que compõe o álbum, e possui importância imprescindível para a compreensão plena do mesmo. No desenvolvimento da narrativa musicada, somos apresentados a diversos personagens, dos quais se destacam:


Animae: que representa uma entidade cósmica (Deus, ou Deuses), criadora do Universo e da Humanidade.

Nauticus: Nome fictício da sonda espacial mais inteligente já criada, que navega pelo espaço em busca de respostas para salvar a Terra e a humanidade.

Imago: É a imagem da humanidade em sua forma mais crua e natural. Também se trata de um reflexo de Animae, já que foi criado à sua semelhança.

Mr. Money: Personagem principal da história, é uma caricatura do capitalismo, materializada na figura de um bilionário excêntrico e ganancioso (Tudo a ver com nossa época atual).

Dea Pecuniae: Contraparte feminina do Mr. Money, pode ser encarada como uma representação do pecado.


O álbum está organizado em cinco momentos, desenvolvidos ao longo de 15 músicas:


Prólogo

01. Animae Partus ("I Am") - A God Is Born ("I Am") 1:48


"BE" (CHINASSIAH)

I Animae Partus

All in the Image of

02. Deus Nova - New God 3:18

03. Imago (Homines Partus) - Imago (Man Is Born) 5:11

04. Pluvius Aestivus - Summer Rain 5:00

Of Summer Rain (Homines Fabula Initium) - Of Summer Rain (The Story of Man Begins)


II Machinassiah

Of Gods & Slaves

05. Lilium Cruentus (Deus Nova) - Blood Stained Lily (New God) 5:28

On the Loss of Innocence

06. Nauticus (Drifting) - Nauticus (Drifting) 4:58

07. Dea Pecuniae - Goddess of Money 10:09

I Mr. Money

II Permanere

III I Raise My Glass


III Machinageddon

Nemo Idoneus Aderat Qui Responderet

08. Vocari Dei - Messages to God 3:50

Sordes Aetas - Mess Age

09. Diffidentia (Breaching the Core) - Mistrust (Breaching the Core) 7:26

Exitus - Drifting II

10. Nihil Morari - Nothing Remains

(Homines Fabula Finis) - The Story of Man Comes to an End 6:21


IV Machinauticus

Of the Ones With no Hope

11. Latericius Valete - If You Are Strong, Be Strong 2:27

12. Omni - Everything 2:37

Permanere?

13. Iter Impius - Wicked Path 6:21

Martius, son of Mars

Obitus Diutinus

14. Martius/Nauticus II - Martius/Nauticus II 6:41


V Deus Nova Mobile

...and a God is Born

15. Animae Partus II 4:08


Na primeira música somos apresentados a Animae e sua dúvida primordial. A música “I am” narra uma crise existencial dessa figura originária, que constata, mas também questiona, sua própria existência. Como consequência dessa crise a humanidade é criada, na busca por compreensão.


A segunda música, “Deus Nova” narra o crescimento populacional vertiginoso. Se no ano 10.000 antes de Cristo o mundo contava com 1 milhão de pessoas, no ano 2.000 depois de Cristo já haviam 6,08 bilhões de vidas nesse planeta. Com essa enorme multiplicidade, também aumenta a dúvida, de modo que chegamos na terceira música.


“Imago” narra a curiosidade a busca por respostas, que faz brotar a ciência, mas também a técnica. Surge a vontade e o ímpeto de controlar a natureza e a própria humanidade. Se no início da música o motor é a curiosidade, no final o que gera movimento é a ganância e a sede de poder. Os versos “Take me to the...” viram “Give me all the...”, sintetizando e contrapondo essas duas tendências humanas (curiosidade e ganância).


“Pluvius Aestivus” narra uma grande chuva, que parece ser uma menção ao dilúvio bíblico. Essa chuva surge como uma grande catástrofe para a humanidade. A música seguinte, “Lilium Cruentus” narra o desejo humano, falando sobre amor, sonhos, e também morte.


A sexta música, “Nauticus”, é um lamento musicado, quase uma oração. A voz principal canta: “Oh Lord, won’t you help me find a way? When I’m lost and lead astray... To help me bend to stay unbroken, oh Lord!” Portanto a viagem espacial da sonda Nauticus também é acompanhada pela tentativa de comunicação com o divino. Mas essa oração é quebrada pela interação entre Mr. Money e Dea Pecuniae, representando o que há de mais terreno.


A sétima música, intitulada “Dea Pecuniae” desenvolve em mais detalhes essa interação. Elementos como ganância, narcisismo e luxúria pavimentam o terreno para o apocalipse que virá em seguida. A última frase da música é absolutamente simbólica: “There will be nothing left! No! Nothing left, but Money.” O sentido da palavra Money é duplo, pois representa o dinheiro, mas também o personagem principal e seu ego autocentrado.


A oitava música, “Vocari Dei” é um instrumental que nos prepara para o que vem a seguir. “Diffidentia (Breaching the Core)” é uma música sobre introspecção e a busca interior por repostas, que vem acompanhada de um regozijo com si mesmo. A música diz: “We’re breaching the core... To taste it, to touch it, to cut it, to crave it, enclave it, pluck my eye”. Cheia de si, a humanidade então se revolta contra Deus e passa a buscar em si mesma as respostas de que tanto necessita. Mas o final não é nada animador, pois se constata: “I failed, we failed...”


“Nihil Morari” coroa a dominação humana da natureza por meio da técnica. Tudo então passa a carregar o nome da humanidade. O mundo passa a ser tomado como um grande depósito de recursos a serem explorados de forma inesgotável. Além da técnica, o capitalismo também se pronuncia: “When there’s nothing left for us to break, use, abuse or rape, then you’ll free to count how much you saved.” A relação técnica é complementada pela relação econômica com a realidade. E um novo crescimento populacional se inicia, de maneira vertiginosa. Em 2.050 depois de cristo passam a haver mais de 9 bilhões de pessoas. “Latericius Valete” então narra a queda, pois 10 anos depois, em 2.060, só existem 1.2 milhões de pessoas.


“Omni”, a décima segunda faixa, narra uma viagem espacial. Em seguida, “Iter Impius” fala sobre a chegada da humanidade em Marte. Mr. Money sai de sua nave e se depara com um planeta inteiro para si mesmo, pronto a ser explorado e devorado por sua ganância. Contudo, constata sua própria solidão.


“Martius / Nauticus II” é uma retomada da sensibilidade e da emoção, trocando os termos cantados em “Nauticus” por: “I feel every mountain, I hear every tree, I know every ocean, I taste every sea.”


E então “Animae Partus II” encerra o álbum com balbucios de bebê e retoma a frase inicial do álbum: “I am!” Todo o percurso musical se encerra de forma cíclica, voltando ao início.


Quem conhece um pouco da obra de Martin Heidegger pode encontrar nesse álbum diversos paralelos com sua filosofia. A temática do ser, a crítica a técnica, e também a constatação do niilismo e a busca por um novo Deus como escape e salvação. Ouvir música também é uma forma de exercitar a reflexão, e por isso recomendamos a todos ouvir o show inteiro desse álbum, legendado em português:



 
 
 

Comments


bottom of page